por Ursula Rösele
“- É tão inconcebível tentar compreender Deus?”
Em O Sétimo Selo (1957), o cineasta sueco Ingmar Bergman lança uma série de questões pessoais (e por quê não dizermos, universais) acerca do que o autor denominava ‘o silêncio de Deus’, no decorrer das angústias pontuadas por suas personagens.
Hoje, em pleno Brasil 2023, lanço a questão: é concebível em alguma instância tentarmos compreender que rumos tomamos nossa humanidade?
O cineasta assinou obra prolífica, entre o teatro e o cinema, e apesar de ter ficado marcado por um estilo denso, bergmaniano - no qual seus temas eram discorridos em jorro a partir de textos longos, dramáticos e pesados -, Bergman também dirigiu comédias e obras leves.
Nesse O Sétimo Selo, no entanto, o artista assina um filme de época, que se passa no período das cruzadas e questiona, de maneira ácida, os caminhos sanguinários da catequização da Igreja Católica, a Peste Negra, e a punição de um suposto Deus silente, que se cala permitindo que a única manifestação sobrenatural se dê pela presença da impiedosa Morte, com ‘M’ maiúsculo e caracterização clichê teatral.
Contudo, ainda que mantivesse em seu âmago um quê amargo de poeta desencantado, Bergman não deixava de exaltar o divino que parecia lhe bastar como fôlego: a arte. Eis que diante de uma partida de xadrez que atravessa toda a narrativa e pauta a mortandade de um grupo diverso de personagens, é a família mambembe de atores, composta pelo jovem médium, sua esposa pé no chão e o pequeno bebê, poupada do destino da última dança moribunda.
Um artista imortal, certamente. Uma obra sempre a ser revisitada, questionada com certeza (posto que os tempos andam e precisamos com ele rever discursos que caducam), mas imensa em seu tempo e tantos outros.
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