O cheiro da chuva convida você a sair, talvez para caminhar lá fora, talvez para se sentar e tomar um café em sua solitude sagrada. Entre uma esquina e outra, você espera um sinal verde; segundos são suficientes aqui, pois o corpo, agora estático, percebeu, notou e realizou a existência da graciosa borboleta azul-escura que quase tocou seu ombro e que foi repousar nas tulipas plantadas para a primavera nos jardins da cidade ao norte. Agora, você não atravessa a rua; agora, paira sobre o pensamento da significância de uma beleza e todos os possíveis cenários de coexistência com a vida, o viver e a raridade dos momentos que você escolhe guardar.
Este é um.
Ela dança lentamente as asas, ela hipnotiza lentamente com cores, ela permanece lentamente firme diante do vento frio. Ela é o persistir mais belo que seus olhos acreditaram em longos anos. Ela agora retorna bruscamente ao ar, e você, com pés de carne, não é capaz de acompanhar, a não ser com este olhar capaz de possibilitar o amor. A passageira e absoluta imagem que transforma a alma em aura, e agora você pode lembrar, e agora quer retornar e pertencer ali, esculpindo para si sonhos de paz momentânea impregnados pela fragrância de uma terra esperançosa.
A união do cotidiano com a ficção amarga, o silêncio em tons de cinza, o documentário daquilo que já foi e em alguma história contada por desconhecidas terceiras, seu peito será o primeiro a assimilar, reconhecer e então em comunhão reinará o sentido suficiente para a sobrevivência do desejo de vida.
O presente:
Você e o mundo das imagens em união resultam infinitos:
Linguagem lúcida quando horizontalmente o corpo se projeta para receber e só.
Não há cortina fechada;
a caixa torácica contorce até que rasga,
a sala escura está incendiada por sonhadores.
Permita-se ser mais um de nós.
Aqui há 26 filmes,
aqui há 26 borboletas azul-escura.
Este ensaio foi escrito por Francis Assis, curador e idealizador da mostra Arqivo & Pesqisa: Relatos Sagrados.
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